sexta-feira, 29 de abril de 2011

Não ser professor...

Eu não consigo ser mais professor. Hoje, infelizmente constatei que não aguento mais esta atividade. Certamente, não foi por falta de tentativa já que acumulo onze anos nesta atividade. Estou triste por várias razões que tentarei explicar.
A primeira delas é sobre minha gratidão com o magistério. Fui muito feliz e colecionei muitos elogios dos alunos, pais, colegas, coordenadores e diretores. Fiz amizades, fiz admiradores e admirei também. Ensinei, porém mais aprendi. Compartilhei. Ganhei dinheiro. Mas o que teria acontecido?
Lecionei em diferentes esferas desde o setor público até o privado, alunos de 10 a 70 anos, do ensino fundamental ao médio.
Quando comecei a lecionar eu ainda estava cursando a faculdade. Foi uma ótima oportunidade de trabalho, pois aliava a necessidade financeira e o prazer de estar trabalhando com um assunto que eu sou apaixonado. Concluí que seria maravilhoso. Eu estaria repartindo o pouco que eu sabia do assunto com os alunos. Seria prazeroso e recompensador. Projeções, meras conjecturas.
Contudo o tempo foi passando, as situações foram acontecendo e as decepções foram se acumulando.
Trabalhando com alunos do ensino fundamental descobri no setor público descobri que a esmagadora maioria dos alunos não querem estudar de forma nenhuma. Isto ocorre por diversos motivos. O principal de muitos, pode parecer absurdo, mas é a mais pura verdade. Os alunos que alcançam a este patamar não sabem ler nem escrever, pelo menos a grande maioria, em números cerca de 70%. Então, me parece lógico que um aluno como este não queira se envolver em qualquer atividade, mas não por não querer, e sim por saber que não tem competência para acompanhar. Logo, qualquer atividade pedagógica como leitura, cópia, ditado e interpretação se tornam um suplicio. Aula é sinônimo de cópia. Explicação,exposição, diálogo sobre o conteúdo era novidade.
O desinteresse também é motivado pela progressão continuada. Este método de trabalho consiste em aprovar o aluno, caso o mesmo não tenha excedido o número de faltas, mesmo que ele não sequer a mínima condição de aproveitamento. E este desinteresse é “infeccioso”, é “contaminante”. Os alunos mais perspicazes percebem que se estudarem e se esforçarem ou não, o resultado é o mesmo, então optam pelo caminho mais fácil. Os alunos de forma geral, são totalmente sabedores de sua condição, por isso aproveitam para não se esforçarem em nada. No final a disciplina é o principal foco do professor que tem que ficar controlando comportamentos inadequados e a parte pedagógica que deveria ser seu foco, simplesmente desaparece.
A estrutura física oferecida tanto na rede pública como na particular são precárias. Falta de tudo que você possa imaginar, desde giz, lousa, carteiras, vidro nas janelas, porta, iluminação, mão-de-obra e material didático. Veja você, ainda estamos falando de lousa e giz, em plena era “digital”. O acesso as novas tecnologias ainda é muito limitado. No caso das escolas públicas o caso é mais grave já que a maioria das edificações foram construídas na década de 70 ainda. Então é óbvio que precisam de uma reestruturação profunda.
Entendo que este modelo de escola, ou educacional, não serve para todos os indivíduos. Há indivíduos que não se encaixam nele ou não precisam, como os autodidatas. Contudo, a educação representa uma via de progresso sócio financeiro. Mais do que isso, representa a única maneira de entender o mundo em que vivemos e como interagir com ele de forma mais participativa, modificado sua própria realidade.
O professor também é parte deste processo e tem sua parcela de responsabilidade. A formação do professor é insuficiente em quantidade e qualidade. Temos diplomas, mas não temos consistência. O professor é muito mau remunerado e não tem um plano de carreira digno. Não há premiação pelos mais esforçados. No setor público, por exemplo, existe uma bonificação que é utilizada com fins políticos, e seus critérios além de serem u mistério, mudam a todo instante. Os estágios são uma farsa e nada acrescentam na formação do futuro professor.
A pedagogia seria um instrumento importante de trabalho mas aborda uma série de questões que servem para o campo filosófico e que não tem serventia na prática. Com isso acaba sendo mais um fator dispersor do que agregador. Além de ser um ninho de oportunistas que possuem as mais variadas fórmulas “mágicas” que farão o aluno aprender num piscar de olhos.
Mas e o sindicato? Este órgão que deveria pleitear melhores condições de trabalho, uma carreira digna, salário compatível, fiscalizar a formação e atuação do professor, entre outras obrigações acabou virando um trampolim político e um covil de interesses trabalhistas.
E o Governo? Ah, este é o setor que tem menos interesse em que a educação seja realmente efetiva. Primeiro porque sabemos que indivíduos com pensamento crítico são perigosos para os interesses inescrupulosos dos políticos. O que o governo quer são dados estatísticos para aparecer na mídia e usar em campanhas políticas.
Considerando tudo que foi narrado acima ainda tem uma coisa que me incomoda mais que tudo. A posição da família em relação a escola. Incluam-se pais, mães, tios, irmãos, responsáveis. A família age como se a escola fosse um local onde a criança passa cerca de cinco horas por dia. A escola por intermédio dos funcionários são obrigados a aceitar comportamentos como arrogância, petulância, prepotência e desrespeito, mas o aluno não tem nenhuma responsabilidade. Esta situação é reflexo do ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente, diretriz que garante os direitos destes indivíduos mas que não impõem deveres.
Portanto, estamos construindo uma sociedade desequilibrada, alienada com uma visão distorcida da realidade que só quer mas nada oferece

17 comentários:

  1. Enzio, querido amigo!!! Posso lhe fazer um convite? Sou efetiva na Leste 5 e trabalho no CEEJA Clara Mantelli (conhece?). Fazemos um trabalho interessante com o pessoal do EJA, mas é bemmmmmmmmm diferente de uma sala de aula. Uma prof. irá se aposentar, será que vc estaria interessado??? Preciso saber se és efetivo e a qual diretoria vc pertence, ok? Bjão.

    ResponderExcluir
  2. Li o post, quero responder e advinha... sem tempo e forças agora. Será que é porque dou 12 aulas por dia pra sobreviver?... capaz.
    Também sou e pra sempre serei inconformada. Até então sempre discursei que minha luta seria dentro da sala de aula. Mas agora, mais do que nunca as armaduras estão gastas. Sinto que está chegando a hora de arregar e pular fora. Fico triste. Ao ponto de me sentir culpada por pensar em mudar meu rumo. Confusa com o que quero X o que posso suportar. Enfim...
    Espero, com tempo e força física e mental, as quais me faltam agora, voltar aqui.
    Bjo hermano. Força!

    PS. Em novembro de 2008, exausta de tanto trampo escrevi algo no meu blog tb. dá um alô por lá.

    ResponderExcluir
  3. Caro Enzio, estamos em 2016 e compartilho de seu sentimento, o que significa que em 5 anos nada mudou. Tenho 25 anos e apenas 5 de profissão. Também comecei a lecionar ainda cursando a faculdade e achava tudo muito empolgante. Eu ganhava mais do que a média das minhas amigas que trabalhavam em outras coisas e as vezes já tinham até terminado a faculdade. Ainda acho que ser professor é a profissão mais linda do mundo e que tem lá seus benefícios, talvez seja por isso que me sinto tão fracassada agora. Sei que sou jovem e posso tentar mudar de rumo a qualquer momento, mas me sinto mal por desistir, também tenho medo da instabilidade. Creio que sou o tipo de professora que eu sempre quis ter, sou amável e compreensiva com meus alunos, falo a linguagem deles, sou paciente, faço piadas para explicar a matéria e creio que me diferencio da imagem de professora tradicional. Mas mesmo com muitos me adorando ainda tenho que suportar tanta malcriação, falta de educação, falta de consideração... sei la´. A gota d'água foi um aluno me tacar um giz. Não doeu, mas o gesto.. nossa, como me feriu. Eu já estava desmotivada e esse acontecimento foi só a cereja do bolo. Não tenho raiva do aluno que fez isso, ele é mais infantil do que malandro. Mas não acho que devo aceitar tal agressão, só não sei o que fazer, não me vejo trabalhando fora da educação. Estou muito confusa, se puder dizer se ainda dá aulas ou se conseguiu mudar de profissão seria legal. Muita paz e força. Abraços.

    ResponderExcluir
  4. Em 2018 e nada mudou nesse cenário que você descreveu. Cheguei ao seu blog digitando no google que eu não queria mais essa profissão. Seu texto falou por mim. Que Deus abencoe a jornada de quem está tentando sair dessa profissão, assim como eu. Espero que você tenha conseguido. Um abraço.

    ResponderExcluir
  5. Estou desistindo. Está impossível suportar essa mentira. Professores fingindo que estão ensinando, alunos sendo avaliados por baixo, ou seja,sendo enganados e pais satisfeitos com aprovações mentirosas. As escolas estao cobrando o minimo possivel nas avaliacoes. Alunos apresentando deficit de conteudo grave, chegam sem saber nada. Triste realidade, estamos arcaicos, a educação precisa de socorro, reformulação já!, principalmente desses conteúdos que alunos decoram e3nao sabem onde utilizar...etc.... Desisto

    ResponderExcluir
  6. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderExcluir
  7. Não é uma onda de pessimismo em ser professor quando lemos esses relatos. São nossos sentimentos do que é atuar na regência de turma, sobretudo. Como administrar o desafio de manter a sanidade mental, o emprego na rede pública de ensino, lidar com a desumanização das secretarias de educação e a motivação com alunos que aprendem cada vez menos?

    ResponderExcluir
  8. Terrível. Estou nessa situação.

    ResponderExcluir
  9. Além de tudo já mencionado temos que lidar com a corrupção das colegas que fazem de tudo pelo cargo de diretor e coordenador....o que acontece é ultrajante....grave.... não tem ética nem dignidade...a Educação no Brasil não tem Educação....

    ResponderExcluir
  10. Parabéns pelo texto. Estamos em 2019 e tenho 15 de magistério. Rede pública e privada ... Problemas diferentes mas um tão grave quanto o outro. Escola é creche e o professor ... Sei lá o que nos tornaram.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. ESCRAVOS! ESTÃO NOS TORNANDO ESCRAVOS, E BODES EXPIATÓRIOS PARA CULPAREM POR TUDO QUE HÁ DE ERRADO NA SOCIEDADE.

      Excluir
  11. Insuportável a situação de professor nesse país, já sofri até um acidente de transito ao sair irritado do colégio onde trabalho. Na rede pública parece que estamos lidando com selvagens, na rede privada somos tratados como escravos das crianças que decidem se vamos estar empregados no próximo ano ou não. Estou tentando sair desse inferno de profissão, e fala a verdade, o que tem de bonito nessa porcaria. Esse é o problema, estamor insatisfeitos e ainda ficamos dizendo que é uma profissão linda, fala sério, o que há de bonito em uma profissão onde os profissionais estão ficando com depressão? Fala sério!

    ResponderExcluir
  12. Inclusive, sorte de quem consegue um afastamento psiquiátrico. Estou fazendo tratamento já faz tempo com remédios fortes e o médico nem pensar em me afastar. Já estou me tornando alcoólatra, pois a única coisa que penso em fazer quando termina o expediente é beber para tentar relaxar e esquecer um pouco a quantidade gigantesca de humilhações... tenho pensado em outra graduação em outra área, no entanto já passei dos quarenta anos e não sei se serei absorvido pelo mercado em outra área. É angustiante chegar nessa etapa da vida, trabalhar com dedicação, fazer mestrado, especializações, tratar os alunos com carinho e ter como recompensa que terminar os dias tendo que aguentar de tudo para poder sobreviver, sim pois é isso que no máximo consegue-se fazer com salário de professor no Brasil. Você que é jovem, não se iluda nessa profissão para acabar como a mim e a outros que estão nesse blog, sou professor da rede pública e privada, já trabalhei em inúmeras escolas e o resultado é sempre o mesmo, não tem para onde fugir, é só humilhação que você tem que suportar. Falam sobre o professor se especializar, pois bem fiz mestrado em uma das melhores universidades do país, emprego para dar aula em faculdades particulares, que é o que aparece, o salário é pior do que em algumas escolas de educação básica da rede privada. Não se iluda, a profissão é muito ruim no Brasil e a tendência é piorar muito, ninguém vai investir em nós professores, nunca investiram e certamente não será a partir de agora. Fuja dessa profissão quem ainda é jovem e tem oportunidade.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. ESCRAVOS! ESTÃO NOS TORNANDO ESCRAVOS, E BODES EXPIATÓRIOS PARA CULPAREM POR TUDO QUE HÁ DE ERRADO NA SOCIEDADE.

      Excluir
  13. ESCRAVOS! ESTÃO NOS TORNANDO ESCRAVOS, E BODES EXPIATÓRIOS PARA CULPAREM POR TUDO QUE HÁ DE ERRADO NA SOCIEDADE.

    ResponderExcluir
  14. Buy ford edge titanium for sale online
    Buy ford stilletto titanium hammer edge titanium pry bar titanium in online fashion for the mens titanium wedding rings chance to see the best fallout 76 black titanium in unique fashion, babylisspro nano titanium safety and performance quality. Get 100% satisfaction.

    ResponderExcluir